O pescador saiu sem levar
seu amor
Mas respeitou
o céu, as nuvens e o mar
Era único
seu pedido
Retornar casado
com a rede farta
De mãos dadas
com seu embaraço
Sorriu sem jeito
seu próprio dia
Entrou em casa
como se fosse outra
E viu na mulher
o que jamais pescou
Que era seu próprio sonho
de pescador
Aos Leitores
Presente de Poeta
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Conto
Imaginação
- Você nem chega perto de entender a mente
dele... Posso tentar esboçar, mas ela é tão imaginosa que levaria duzentos anos
de imaginação sua para chegar perto da compreensão dele... Digamos que um grupo
queira roubar um banco. Eles gastarão alguns dias para imaginar como iniciar
essa empreitada, e pior, terão de estudar o banco inteiro, por meses, talvez
vários para entender o banco todo, seus alarmes, seguranças, dias, horários,
tudo... Certo?
- Certo...
- Já ele em um dia teria tudo pronto em sua
imaginação...
- Como assim?
- Ele tem a capacidade de imaginar
hipertrofiada, de um jeito fora do comum até para quem imagina bem... Ele em um
dia, nesse caso do banco, imaginaria tudo, cada mínimo detalhe, teria tudo,
todas as possibilidades desse banco, em alarmes, seguranças, pessoas, até os
rostos, roupas, tudo... Quando digo tudo não é exagero... Então se ele fosse
roubar o banco, ele em um dia já teria tudo que ele precisa, pois sua
imaginação teria imaginado tudo, e de alguma forma qualquer situação que ele se
colocar já estaria dentro de seu universo de possibilidades, ele já estaria
pronto, sua imaginação já teria preparado sua consciência...
- Mas isso é só com o banco, por exemplo?
- Não, com tudo! Ele imagina todo o mundo
antes dele, cada instante do olhar dele só concretiza o que a imaginação dele
prévia já tinha imaginado... É tão fora do comum que ao sair do quarto, ele
imagina que atrás da porta do seu quarto pode haver de tudo, tudo mesmo! Campos
de futebol, quadras, outras portas, ambientes doidos pintados de roxo, um campo
de refugiados, um restaurante, uma faculdade, até mesmo um banco... Tudo!
- Mas quando ele sai, ele não se decepciona
por ser diferente do que ele imaginou? Ou ao menos não atender todas essas
possibilidades?
- Mas quem disse que é diferente do que ele
imaginou? Pelo contrário... E se não atende suas várias imaginações, isso não o
decepciona ou desanima, pelo contrário, faz ele imaginar mais um monte de
absurdos para o instante seguinte, para seu próximo passo, para seu próximo
instante de vida. A imaginação dele jamais pára...
- Então ele sabe como é o universo inteiro!
- Agora quem não entendeu fui eu...
- Ora, simples. Se ele imagina tudo a cada
instante de vida, e uma de suas imaginações se concretiza em vida, que é o
instante em que ele vive, mas já imaginando uma próxima possibilidade, ou
melhor, várias outras possibilidades, ele já imaginou todo o universo, todas as
galáxias, todas as formas de tudo, até de possíveis vidas se é que podemos falar
vidas dentro dessa imaginação...
- Não tinha pensado nisso... Verdade, ele já
foi até o fim do universo e voltou, mas o problema é que ele nem sabe, porque
dentro desse universo infinito de possibilidades ele não sabe qual realmente se
concretizaria...
- Verdade... – meio triste – Que estranho, no
fundo ele sabe tudo e não sabe...
- Mas em compensação se você for tentar
conversar com ele, parecerá um retardado mental, que mal consegue falar...
- Nossa, mas por quê?
- Justamente porque sua hipertrofia
imaginária faz seu cérebro se ocupar disso, e desses universos, e ele mal
consegue articular palavras, frases, uma idéia que seja, porque seu pensamento
é tão rápido e tantas coisas o perpassam em um único instante, que ele não
consegue dar forma a esses tão gigantescos e abstrusos pensamentos e
imaginações... Acredite, ele já imaginou de tudo, e continua a imaginar...
- Mas se ele imaginou tudo, como continua?
- Porque dentro de uma imaginação, ele a
varia, e isso vai até o sem limite, o sem tamanho, o infinito...
- Não entendi...
- Veja, digamos que ele imagina essa nossa
conversa, essa cena toda, inclusive com as palavras e diálogos (ah sim, porque
as palavras não escapam da imaginação dele, não são apenas cenas, quando tudo é
tudo...). Então, dias depois, digamos que estejamos juntos e isso dê a sua
mente uma nova possibilidade de imaginação, ele voltará a pensar a antiga
imagem que teve, mas com detalhes mudados, palavras mudadas e isso ao
infinito... Por exemplo, ele imaginará essa cena, mas nossa roupa de uma cor
diferente... Depois imaginará essa conversa com uma única palavra diferente
dentro da conversa inteira, e depois mais outra palavra, até mudar o discurso
inteiro! É sem fim...
- Mas ele consegue? Ele teria de ter um tempo
infinito também para isso...
- Consegue, ele faz isso em um instante, é
absurdo, acredite...
- Ele no fundo sabe todos os destinos, o seu,
o meu, o dele, o de todas as pessoas, os caminhos da humanidade, as invenções,
todos os discursos, palavras, obras de arte, universos, poesias, músicas...
Tudo!
- Sim...
- Mas não pode, nem tem como reproduzir e
trazer isso a nós...
- E também não sabe, qual dessas imaginações
vai virar fato...
- Bom, mas agora pensando, se realmente isso
acontecer, e for verdade que tudo isso transpassa em sua mente, como você sabe
disso se ele parece um retardado mental falando, como você disse?
- Sim... Boa pergunta... Isso é uma longa
história...
- Digamos que minha curiosidade me dará todo
o tempo para ouvir...
- Bom... Difícil até começar... Veja, ele já
tinha nascido, e em um dos exames desses que se fazem hoje nos bebês, trazia
uma diferenciação na forma de agir do cérebro... Como eles chegaram a isso, não
me pergunte, porque não sei. Mas o doutor, ao invés de desanimar e nos trazer
uma “má notícia”, pelo contrário, veio sorridente, disse que havia chegado
alguém tão fora dos padrões médicos e humanos, que certamente tinha algo de
extraordinário nele. Na época, fez exames mais detidos no cérebro ao descobrir
essa disfunção, que o médico disse ser no início proveniente de uma química,
que o sangue tinha uma substância nunca vista, e ao ver de onde provinha essa
substância era do cérebro e resolveram investigar melhor. Fizeram de tudo que
possa imaginar, só faltou abrirem a cabeça da criança. Mas não chegaram a isso.
Após tanto falatório, pesquisas, olhares e tudo que você possa imaginar de
curiosidade médica, disseram que ele seria provavelmente muito, mas muito
inteligente, a ponto de ultrapassar até o modo como conhecemos as coisas... Já
pensou?
- Nossa... Mas e aí?
- Então, falaram para ficarmos
despreocupados, que todas as análises indicavam sem dúvida alguma que ele seria
super dotado, até mais que “super dotado”... Esse conceito seria pequeno para
ele... Diziam que sua atividade cerebral já era desde o início fora do comum,
que as ondas cerebrais e mais um monte de exames que fizeram, mostrava uma
disfunção, sim, uma disfunção, só que “benéfica”.
- E como você pode inferir disso todas essas
coisas sobre imaginação?
- Calma, posso contar?
- Vai, vai, desculpa...
- Começamos a cuidar dele, e o tempo passa
como sempre haverá de passar... Ele foi crescendo, e víamos atitudes estranhas,
ele como bebê, parecia já ser criança, ou pior (melhor?) como adulto! Ele já
mexia em um pente de cabelo por exemplo passando no cabelo da mãe. Como ele
sabia, jamais tinha visto? Ele sabia mexer em tudo e para que servia dentro da
casa... Até aparelhos que eu comprei em promoção desses canais de televisão,
que na verdade chegavam aqui e eu nunca soube fazer funcionar e desistia,
jogava na caixa e deixava esquecido em um armário qualquer...
- Claro, é estranho, mas daí a tirar
conclusão dessa imaginação...
- Está impaciente... Veja, só que apesar
dessa “precocidade”, ou melhor, essa sabedoria inata, porque ele era mais que
precoce, sabia mexer em coisas que nem eu sei até hoje como ele fez funcionar,
mesmo com isso, ele jamais tinha pronunciado uma palavra sequer.
- Nada?
- Balbuciava, grunhia, mas tudo muito
desconexo...
- Desconexo para vocês, talvez fizesse o
maior sentido dentro dos seus universos...
- Sim, sim, mas até então nem sabíamos...
Cresceu mais, cresceu mais, e os outros já falavam, e ele não conseguia falar,
ficava um pouco amuado por não conseguir falar, triste... Ia para a escola, mas
nas provas fazia desenhos e símbolos fora de qualquer compreensão... Lembro de
pegar uma prova de matemática com símbolos tão abstrusos, obscuros que a
professora ficou com medo e nos chamou... Eu realmente até hoje não sei o que
aquilo tudo quer dizer... Mas deve ter algum sentido, bem provável...
- Mas é por isso? E a imaginação?
- Está com pressa? Você disse que sua
curiosidade ia deixar todo tempo do mundo... Então... Um dia chegamos em casa,
ele estava tão triste, tão abatido, algo estava acontecendo, ele tentava dizer,
desenhava no papel, mas era ininteligível para mim, não formava bem palavras,
mas ele sempre parece estar pensando em algo, era como se tivesse um rio, ou
melhor, um mar inteiro acontecendo, mas era uma revoada e nem tinha como dar
forma a esse mar, ele apenas escoava... Fomos novamente ao médico. Infelizmente
o médico que sabia da história e tinha feito todos os procedimentos e
acompanhara tudo de perto tinha morrido, meses antes. Contou a história para um
aluno seu do hospital, e este resolveu pegar o caso. Contamos tudo,
absolutamente tudo para o médico, e perguntamos por que o falecido médico tinha
nos despreocupado de sua “super dotação” mental e não entanto mal conseguia
falar, desenhava coisas sem nexo, tudo fora de um padrão... Entende?
- Sim, sim, e o que o médico fez?
- Mais uma bateria gigante de exames, agora
com mais tecnologias, mais precisões, mais detalhamentos... Novamente o mesmo
resultado, que sim, ele era super dotado, fora de qualquer padrão, aliás, nem
tinha como chamar super dotado, porque não dava para medir ele pelas “réguas
comuns”... Que sua atividade cerebral era incessante e sem paralelo no mundo,
que era um caso mais que raro, porque era único, singular mesmo...
- E daí?
- Insistimos com o doutor, como podia ser
tudo isso e nem conseguir falar?
- Talvez esteja justamente aí o problema, seu
pensamento está fora das nossas formas de pensamento...
- Sim pensei nisso, mas esse pensamento tão
extraordinário, teria de entender ao menos o ordinário, certo?
- Mas e se as bases desse pensamento
extraordinário nem estiverem no ordinário? Nem daria para falar em pensamento
“extra”-ordinário, porque ele nem se fundamenta no ordinário... Entende?
- Mais ou menos, mas acho que sim... Talvez,
mas ainda assim me intrigava, uma mente assim tinha de entender o nosso
básico... Insisti com o doutor que precisava entender o que acontecia, que me
adianta, ou até mesmo para ele uma mente desse porte que não consiga dizer toda
essa coisa “extra-ordinária”? Irá sempre parecer um retardado e com desenhos de
formas estranhas? Insisti com o médico, alguma coisa tínhamos que descobrir,
sem chance. Ele aceitou a empreitada. Lembrei que na época do nascimento o
médico tinha dito de uma substância jamais vista, perguntei se nesse meio-tempo
estudaram algo, se algum elemento foi descoberto...
- E ele?
- Disse que desconhecia o que eu estava
falando, resolveu ir às anotações antigas do seu professor, procurou isso que
eu dizia, encontrou, mas pareciam anotações desconexas, estranhas... Resolveu
experimentar tudo de novo, estudaram novamente o menino, até o fim... Realmente
algo diferente saía do cérebro do garoto. Ele disse que ia estudar e enviar
para químicos de confiança e que voltássemos semanas depois...
- E enquanto isso o garoto?
- Ficava abatido, parecia que tinha algo para
dizer, mas não conseguia... Um dia chorou... Ficamos todos desconsolados. O que
podíamos fazer? Estávamos atados...
- E depois?
- Chegaram os resultados dos químicos, todos
inconcludentes, que era alguma substância sem precedentes, que nada como aquilo
tinha sido visto... E pior, como eu podia culpá-los? Enfim... O médico disse
que ia fazer algo, que sua intuição ia lhe dizendo a algum tempo, ele me
explicou por cima, disse que as estruturas morfológicas do menino eram
idênticas aos demais, embora a atividade fosse absurdamente maior além de
excretar essa substância nunca vista, então que ele iria pesquisar um sedativo
das células dessa região de super atividade e assim faria ela diminuir seu
ritmo e quem sabe algo disso poderia ter algum resultado, ainda que
imprevisto...
- Mas e a saúde do garoto, se ele tem uma
atividade fora do comum nessa região, sedá-la não podia acontecer algo?
- Sinceramente? Não sei, mas eu aceitei, pois
qualquer coisa era melhor que esse tormento do garoto...
- E o que houve?
- Duas semanas ele veio com uma injeção,
disse que tinha chegado ao que queria, e só precisava do meu acordo com
aquilo...
- Você aceitou?
- Sim, a equipe toda se mobilizou, o hospital
inteiro, deixamos ele em um quarto separado, e o médico deu a injeção...
- E então?
- Ele ficou uns minutos com os olhos
fechados, e de repente abriu, quando abriu estava falando normalmente!
- Sério?
- Sim, e enquanto falava o médico anotava
tudo, disse que o efeito da substância podia durar entre meia hora a uma
hora...
- E o que ele dizia? Dizia tudo
perfeitamente?
- Sim perfeitamente bem! Disse o que
acontecia, disse que seu cérebro era mais que uma máquina fora de controle, que
sua imaginação ia tão longe que já tinha visto tudo, que ele estar ali falando
também já tinha sido imaginado por ele, tudo, que a vida inteira dele era um
imenso dejá vu... Ficamos assustados
de início, mas fomos ouvindo... Ele explicava que o turbilhão de sua imaginação
não dava espaço para falar, para explicar, para coordenar o próprio pensamento,
e que seu pensamento estava tão distante das idéias como as concebemos que até
explicar isso era difícil, disse que ficava triste por não conseguir dizer
todas essas coisas, que chorou por estar sozinho, por sua imaginação
hipertrofiada e sem comunicação... Disse tudo, tudo de sua imaginação, cada
detalhe, mas depois de vinte minutos começou a falhar sua fala novamente, olhei
para o médico, queria ouvir mais, queria saber mais, e o médico não sabia me
dizer o que era...
- Não era o funcionamento anormal da região
que esgotou a sedação?
- O médico disse ser o mais provável... E
agora fazia sentido ele saber mexer e manusear tudo que estivesse em sua
frente... Aquilo era mais que corriqueiro para ele, porque ele já tinha
imaginado tudo... Aqueles desenhos estranhos devem ser imaginações de coisas
que nem estamos perto de conceber. Ele vivia um retiro alucinante em si mesmo.
Mas pelo menos quando ele entrou novamente em sua função “normal” de
imaginação, seu rosto estava mais aliviado, menos duro, mais calmo... Eu mesmo
me senti muito melhor...
- E agora?
- Ele vive
seus universos, e de tempos em tempos o sedamos para que conte o que queira contar...
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Poeta ao mar
Por que tão cedo
essa dança ao mar?
Possível suportar
o pélago profundo?
E suportando viver
neste enquanto?
Há resquício
do tempo vencido?
Sim, sempre o sim
desse chamado imprevisto
Por engano nos chega
próximo o longínquo
Admiramos e sorrimos
mesmo no peso
Inconcluso do jamais
repetido e concluído
Pois vida que se dá
a eterno um
Caminho calmo
que só assim pode
Respira e respeita
na surdina
Cada reflexo de sina
tecida em verdade dita
Assim de escombros
e terra escura
Se aclama na chama
do verso versado
Assombro em luz
e plenitude
Que persiste passando
tal rio
E uma centelha sorrateira
perpassa o rosto
De um olhar simples
que reconduz a vida
Até a lembrança
um tanto fria
Ao todo
anima
Pois que alma
arguta se lança
Ao abismo
no sismo de amar
Nisso se reduz
imerso e imenso
Universo e eterno
no instante e seu sorriso
essa dança ao mar?
Possível suportar
o pélago profundo?
E suportando viver
neste enquanto?
Há resquício
do tempo vencido?
Sim, sempre o sim
desse chamado imprevisto
Por engano nos chega
próximo o longínquo
Admiramos e sorrimos
mesmo no peso
Inconcluso do jamais
repetido e concluído
Pois vida que se dá
a eterno um
Caminho calmo
que só assim pode
Respira e respeita
na surdina
Cada reflexo de sina
tecida em verdade dita
Assim de escombros
e terra escura
Se aclama na chama
do verso versado
Assombro em luz
e plenitude
Que persiste passando
tal rio
E uma centelha sorrateira
perpassa o rosto
De um olhar simples
que reconduz a vida
Até a lembrança
um tanto fria
Ao todo
anima
Pois que alma
arguta se lança
Ao abismo
no sismo de amar
Nisso se reduz
imerso e imenso
Universo e eterno
no instante e seu sorriso
Sei que o poeta nasce póstumo. Eis a feitura de suas
migalhas por um eterno. A palavra tem o peso da eternidade, e para se sustentar
na gravidade do eterno é preciso o equilíbrio do amor. Mas enquanto se pisa em
Terra por um fim, peço ajuda para terminar e converter o grão de vida em alma,
para que possa derramar o sol do Meio-Dia que trago no peito, e dele faça germinar
o mais fecundo que o solo humano pode dar, a sua palavra...
Para isso, a ajuda é que aqueles que tenham Poesias, Canções, Letras, em outras línguas (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Italiano) e queiram ver uma tradução, por favor enviem email para dichterpoeta@gmail.com
Grato
Poeta
Para isso, a ajuda é que aqueles que tenham Poesias, Canções, Letras, em outras línguas (Inglês, Francês, Alemão, Espanhol, Italiano) e queiram ver uma tradução, por favor enviem email para dichterpoeta@gmail.com
Grato
Poeta
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